AP03LT21 – Pereira, Consiglieri Sá – ROUPA LAVADA: BALANÇO MENSAL Á VIDA PORTUGUESA. s.l. [Lisboa]. Oficina Tipografica de Luiz Beleza. s.d. [1923 ou 1924?]

AP03LT21 – Pereira, Consiglieri Sá – ROUPA LAVADA: BALANÇO MENSAL Á VIDA PORTUGUESA. s.l. [Lisboa]. Oficina Tipografica de Luiz Beleza. s.d. [1923 ou 1924?] 32 pp. 13 cm x 18,5 cm. B.

Muito interessante folheto panfletário publicado pelo jornalista republicano Luís Consiglieri de Sá Pereira (1901 - ?). Bastante cáustico, o autor escreve frases lapidares que ainda hoje ressoam pela sua actualidade: «Desceu tudo. A um ponto miseravel. Se houvesse em nosso animo, pachorra em quantidade bastante para ou inventar um talentometro ou, graficamente, dar ideia destas desvalorisações (...) a da vida portugueza nos seus aspectos mais variados, todos levariam as mãos á cabeça, aterrados. (...) Baixou o nivel.» Importante testemunho de um intelectual que não se conformava na decurso da I República, contém também episódios caricatos sobre figuras reconhecidas deste período, constituindo, por isso, um documento histórico de grande relevo. Na tabela de entrada, dá-se ao leitor a «Razão d’este panfleto: Contradições-historia do vocabulo “finanças”. A manifestação contra a vida cara – O sr. João Camoezas e o “Diario do Governo”. O Porto e as suas manifestações. Santarem revolucionada – As ditaduras – Governo de fortes e governo de fracos – Fialho e Norton de Matos ou o retrato de um megalonomo mau – O Chocolate Matias Lopes e a pasta do comercio – Felicidades do sr. Alberto Xavier.» Ainda que a intenção do autor fosse continuar a publicação mensal destes volumes por subscrição, a empresa parece ter-se ficado por este único número.

Francisco José da Rocha Martins (1879-1952), escrevendo no panfleto Fantoches – Bastidores da Política e dos Negócios, que dirigia, acredita que «O panfleto é inutil numa sociedade que pede tiros. Ele penetra nas casas, é lido por alguns chefes de família mais de sangue na guelra, tem o seu logar nas noites de chuva, no aconchego dos lares sabendo bem, aos que sofrem do mal estar geral, as zargunchadas e as verdades lançadas a toda essa sucia que nos rouba, que nos vexa e nos desgoverna. Mas, no dia seguinte, o panfleto, que levou uma semana a engendrar, está esquecido e a sua acção não se marca.» (Ano II, n.º 64).

De acordo com a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (G.E.P.B.), o autor começou a colaborar com o semanário socialista O Combate logo aos 14 anos e, mais tarde, ajudou a fundar o semanário sindicalista A Greve. Em 1919, foi redactor do diário A Batalha, órgão da União Operária Nacional. No ano seguinte, era já redactor n’O Século, exercendo idênticas funções um ano depois no Diário de Lisboa, onde se destacou por uma série de brilhantes reportagens, uma delas consagrada à reconstituição da trágica «Noite Sangrenta» de 19 de Outubro de 1921, assim mesmo intitulada, e que ficou como grande testemunho do (tristemente) célebre episódio da «Camioneta Fantasma». Esta crónica, publicada em livro em 1924, seria prefaciada por Raul Brandão. Refere ainda a G.E.P.B. que, neste mesmo ano, Consiglieri Sá Pereira iniciou a sua carreira consular em Tui, sendo transferido no ano seguinte para Aiamonte e, em 1933, para Las Palmas, lugar de que, mais tarde, foi exonerado. No entanto, em 1931, damos com ele com o importante cargo de Cônsul de Portugal em Madrid, através de cartas enviadas a Bernardino Machado. O autor era filho do também jornalista e grande figura da I República, Pedro Januário do Vale Sá Pereira (1877 – 1930), que, entre outras coisas, foi o fundador do Partido Socialista Democrático, em 1902.

Bom estado geral de conservação. Picos de acidez na capa. Miolo amarelecido, mas limpo.

Muito raro. Com dedicatória do autor.

Base: 20 EUR

Estimativa: 20 – 60 EUR

* Acresce comissão da leiloeira de 18% sob o valor de martelo e IVA (apenas sobre a comissão).

Bibliografia auxiliar:

Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol XXI.

Rocha Martins, F. J. (22 Mar. 1924). (dir.). Os panfletos e a sua acção. In Fantoches – Bastidores da Política e dos Negócios. Ano II, n.º 64.

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